Cultura e contracultura - relações interdisciplinares

sábado, 4 de junho de 2011

Drogas e cultura: quebrando o tabu

  O documentário dirigido por Fernando Grostein Andrade, com o título Quebrando o tabu, que estreou nos cinemas brasileiros no dia 03 de junho de 2011, se insere desde já em um dos mais importantes lançamentos cinematográficos do ano. Importante pela forma, mas muito mais pelo conteúdo. O documentário, com a participação de vários ex-presidentes da República (Brasil, EUA, Colêmbia, México), escritor mundialmente famoso (Paulo Coelho), ator mexicano (Gael), um médico com experiência em presídios (Drauzio Varella), e principalmente ex-viciados e prisioneiros, não deixa margens a dúvida: é a favor da descriminalização das drogas "leves", apresenta dúvidas quanto à legalização geral, e não indica nenhum indício de fazer qualquer tipo de apologia; pelo contrário, também deixa claro que qualquer droga, incluindo as legalizadas, como o alcóol, faz mal à saúde.
   A droga é um problema de saúde pública, não de polícia!
   Emocionante em vários momentos, o filme tem na presença do sociólogo e ex-presidente da República do Brasil Fernando Henrique Cardoso uma espécie de âncora, tendo participado inclusive na elaboração do argumento do filme.
   É do escritor Paulo Coelho a frase mais importante do filme: o problema da droga é que ela tira do usuário o seu bem mais precioso, a capacidade de decidir
   Mas o documentário, em 80 minutos, não deixa escapar a atenção do espectador nenhum momento. Seja no Brasil, nos EUA, na Europa, o filme tem uma abrangência global, e deverá fazer uma importante carreira internacional (olha aí o Oscar tão aguardado!!!). As experiências em Portugal, na Holanda e na Suiça demonstram o que se tem que fazer a respeito.
   As demonstrações históricas da repressão, principalmente em governos republicanos norte-americanos (de Nixon a Bush), demonstram que quanto maior repressão, maior o consumo e fascínio. E com ele a violência do narcotráfico. Portanto, quebrar mais este tabu na tenra democracia brasileira, faz do filme um importante instrumento político. Sem proselitismo ou demagogia, sem moralismo ou hipocrisia, revela um jovem cineasta cuidadoso e refinado, mas principalmente corajoso em enfrentar um tema tão atual quanto necessário.
   Quebrando o tabu é um filme não só para ser visto e revisto, mas para ser debatido nas escolas, nos parlamentos, na sociedade como um todo:
  
   -  por pais preocupados com o destino de suas "crianças",
   - por pessoas que deveria zelar pelo bem-estar público (e não enriquecer inexplicavelmente),
   - por educadores em saber lidar com a questão,
   - por policiais que refletem sobre seu ofício,
   - por pesquisadores que buscam respostas,  das ciências "duras" às ciências humanas.
  
   Este é um filme que veio para ficar nos corações e mentes de todos que que se preocupam, e acreditam na possibilidade de se inventar, um mundo melhor.  Um filme obrigatório também para os que amam um bom e honesto cinema.